A prática do Voo Livre vem crescendo em Cachoeiro de Itapemirim e na região sul do Espírito Santo nos últimos anos. Há 19 anos, os pilotos Samuel Almeida de Souza e Marco Ribeiro descobriram o esporte radical e trouxeram para a cidade. Hoje, um dos principais pontos de encontros dos amantes do esporte é a Rampa do Mirante, em Vargem Alta, com 506 metros de altitude.
Agora instrutor da NorteAR Voo Livre, Samuel Almeida de Souza contou que a paixão pelo esporte surgiu em 1990 e em 1994, começou a praticar. “Servi no Rio de Janeiro em 1990 e lá começou a prática do ‘paraglider’. Pesquisei um instrutor no Rio e ele veio em dois fins de semana e ministrou o curso. Hoje, o curso dura em média oito meses. Naquela época era um desconhecimento dos riscos e hoje, temos plena noção que era um absurdo. Nós não sabíamos nem porque voávamos”, contou Samuel.
O primeiro voo alto de Samuel e Marco foi na rampa de São Vicente. Naquela época não existia ainda a Rampa do Mirante. Passados algum tempo, Samuel se profissionalizou e entrou para a NorteAR, fundada há 15 anos pelo piloto Frank Brown, que depois que passou a competir entregou o controle da empresa para Tadeu Bersot, formado pelo próprio Frank, que se juntou a ele na instrução.
“Em 1996 teve um instrutor de pára-quedismo e asa delta em Cachoeiro, o Renato Mérida, e ele assimilou os dois e nos trouxe a carga técnica e fomos evoluindo. Há nove anos, ele me convidou e o esporte, que até então era meu hobby, passou a ser também minha profissão. Deixar de voar por diversão para dar instrução é gratificante. Hoje, cerca de 95% dos pilotos que frequentam a Rampa do Mirante nos fins de semana, foram meus alunos”, explicou o instrutor.
A NorteAR funciona em Castelo e Cachoeiro. Samuel disse que já perdeu as contas de quantos voos solos fez nesses 19 anos, mas os duplos ele disse que foi uma média de 700 até hoje. “Tudo que deixa de ser lazer, passa a ser profissão”, comentou.
Rampa do Mirante
Criada há nove anos, a Rampa do Mirante fica em uma propriedade particular e mantida pela Prefeitura de Vargem Alta, que realiza a manutenção e limpeza do local, que já sediou competições nacionais e retorna com os eventos em novembro. “Além disso, ela passará por uma reformulação”, disse Samuel.
De acordo com o secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Vargem Alta, Elias Abreu de Oliveira, o ‘Maninho’, o município já ajudava os atletas antes mesmo da construção da rampa. “Sempre estivemos juntos, colocamos as placas de sinalização no local, montamos a estrutura e sempre que solicitado, entramos com parcerias nos eventos”, contou.
Elias disse que a Rampa é uma referência turística no município. “Queremos recuperar essa área, iluminar toda a sua extensão, trocar os alambrados, trocar placas e montar uma loja para que os pilotos possam comprar e vender os acessórios e também o agroturismo de nossa região. Além disso, estamos projetando um estacionamento e um novo paisagismo, isso a curto prazo”, completou o secretário.
Técnicas de voo
Além de passar os ensinamentos para os alunos, Samuel, que é credenciado para voo duplo, contou que precisa lidar com a ansiedade e emoção dos passageiros. “Eu não tinha uma base pedagógica, mas sempre tentei passar todas as informações necessárias para os meus alunos. Tive que aprender a lidar com a emoção das pessoas, a ansiedade. Hoje, tenho certeza de estar em um ponto razoável”, garantiu.
Ao ser questionado, Samuel disse que sente medo antes de cada voo. “Todo mundo sente, sinto muito medo, mas temos que aprender a lidar com isso. Uma vez assisti a uma palestra do Oscar Schmidt, do Basquete, e ele falou exatamente sobre isso, o medo, a ansiedade e ensinou uma técnica de respiração que uso até hoje e passo para meus alunos”.
Quando começou com as aulas de Voo Livre, Samuel tinha dois alunos, hoje o número não aumentou muito, são cinco, mas ele já perdeu as contas de quantos já se formaram. “Voar começa com o querer. Todo mundo tem medo de altura, eu também tenho, mas adoro voar, acho bonito o clima, como ele se desenrola”, frisou.
Ao longo de 19 anos, Samuel contou que muitos voos foram marcantes em sua vida. “Muitos me marcaram. Já voei com pessoas doentes, com senhoras de 70/80 anos, todos os voos foram marcantes, mas alguns deles foram especiais”, afirmou.
Do curso à formação
Samuel explicou que as aulas de Voo Livre não começam na Rampa do Mirante, e sim em locais mais baixos. “Quando o aluno chega à Rampa do Mirante já é na formatura. As aulas começam no solo, a iniciação é no solo. O curso durante em média de quatro a oito meses e o aluno vai voar quando sentir que está preparado”, contou.
O Voo Livre é um esporte radical, com voo não motorizado, que utiliza as térmicas (atividade térmica e do vento na Camada limite atmosférica) para realizar voos locais ou de grande distância, possibilitando alterar tanto a velocidade quanto a trajetória, e ainda escolher o local de pouso.
O valor do curso é de R$ 2.500,00 parcelado, podendo durar de quatro a oito meses. As aulas são ministradas durante a semana ou nos fins de semana, conforme o tempo disponível do aluno. As aulas são previamente agendadas pelo telefone (28) 9955-0157.
Já o voo duplo, o valor é de R$ 130,00 e pode durar de oito minutos à uma hora, dependendo da térmica do ar.
“Alfredo Chaves tem a rampa mais antiga do Espírito Santo, mas a Rampa do Mirante é a mais bonita e de mais fácil acesso. Não temos esse conforto e essa acessibilidade em nenhuma outra do Espírito Santo”, disse.
Segurança para voar
Todo praticante de esportes radicais deve tomar medidas de prevenção para que nada inesperado aconteça. Particularmente um piloto de parapente, precisa compreender que um voo tranquilo depende de um bom domínio em qualquer tipo de situação. Isso só é possível através de treinamento e preparação.
Além do curso, que é obrigatório para voar, o piloto deve usar capacete, pára-quedas reserva, rádio de comunicação, subequipamento, GPS, bússula e air-bag.
“Esses são equipamentos de segurança obrigatório. O piloto voa com toda a segurança oferecida, além também da questão climática, mas tudo isso é passado no curso”, explicou.
A arte de voar
Franciano Bindeli – voa há dois anos – Cachoeiro de Itapemirim
“Não tenho palavras para descrever o que é voar. É uma sensação de liberdade quando estamos lá em cima. Me sinto igual a um pássaro. Fiz o curso com o Samuel”
José Antônio Santana Junior – voa há três meses – Cachoeiro de Itapemirim
“É uma sensação muito boa, uma sensação de liberdade. Algo indescritível. Fiz o curso com o Samuel”.
Julio César Lachini – voa há dois anos – Castelo
“É uma emoção que sempre tem em cada voa, em cada momento. Muito bom. Fiz o curso com Ronaldo Taquaral e Paulinho Louzada”.
Magno Amorim – voa há três anos – Cachoeiro de Itapemirim
“Além de um sonho, voar é um desafio. É um desafio fazer algo diferente. Fiz o curso com o Samuel”.
Alexandre Cunha – voa há quatro anos – Cachoeiro de Itapemirim
“Voar é bom demais. É uma sensação de liberdade. Fiz o curso com o Samuel e também sou apto a praticar o voo duplo”.
Samuel Almeida de Souza – voa há 19 anos – Cachoeiro de Itapemirim
“É difícil definir o que é voar. Começou para mim como uma grande aventura e foi uma superação. Gosto muito do que faço”.